A Gameloft se destruiu? Ela é uma empresa gananciosa e mercenária? A Gameloft Faliu?
Tudo errado!
Na internet o que não falta é informação incompleta e errada com a galera fazendo um monte de achismos e teorias malucas sobre o que aconteceu com a Gameloft.
Acompanhamos o mercado de jogos mobile há mais de 20 anos e conversamos não apenas com ex-funcionários da Gameloft como também com programadores que participaram dos primeiros jogos, lá no tempo do Java, para poder saber como está a empresa hoje em dia.
Se você sente saudade de como era a Gameloft antigamente, você não está sozinho.
Em 2013, a Gameloft estava no topo, era sinônimo de jogos de qualidade no celular.
Hoje em dia basta ouvir o barulhinho do logo que somos tomados por uma grande nostalgia.
O que aconteceu com a Gameloft?
Essa desenvolvedora francesa criou alguns dos melhores games de celular e por muito tempo carregou o mercado mobile nas costas.
Primeiro Shooter 3D em primeira pessoa no Android? Gameloft!
Primeiro MMORPG 3D mobile? Gameloft!
Primeiro Moba no celular? Vainglory? Errado, Gameloft!
Jogos de mundo aberto offline eram a especialidade dela, entregando mundos fantásticos com zero mecânicas automáticas.
Mas de 2014 em diante, tudo mudou.
A Gameloft entraria em uma espiral de más decisões que culminaram no que vemos hoje!
De líder absoluta no mercado de jogos de celular, onde ela dominava todos os gêneros, a Gameloft caiu no esquecimento.
Fica a pergunta, o que aconteceu?
É tudo culpa dela mesmo?
Não exatamente jovem gafanhoto, senta aqui que temos muito pra conversar.
Conteúdo em vídeo:
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Gameloft e o seu grande sucesso
Criada em 1999 por Michel Guillemot e seu irmão Yves. A Gameloft.com seria apenas um site de jogos, com notícias e análises, mas depois da fusão com a Ludigames em 2000, que era a empresa do Michel, partiram com tudo para o desenvolvimento de jogos Java.
A Ludigames já tinha uma equipe talentosa com nomes como Philippe Laurens que foi o produtor dos primeiros jogos da Gameloft como Prince of Persia Harem Adventures, Siberian Strike e outros.
Isso mesmo, essa é a primeira curiosidade tirada daquele livro secreto que a gente adquiriu no ano passado.
Vamos contar toda a história da Gameloft em um artigo especial em breve. Aguardem.
A produtora começou de forma meteórica no mundo dos jogos Java e teve sucesso expressivo também nas plataformas Symbian e Brew do Blackberry.
Já na segunda geração de smartphones, que começou em 2007 com iPhone, e depois Android e Windows Phone, a Gameloft continuou a nos entregar games fantásticos.
A série Modern Combat trazia exatamente o que se esperava de um jogo de tiro no celular, campanhas offline com muita ação cinematográfica dignas de um sessão da tarde.
Ninguém dá crédito, mas foi a Gameloft que criou o esquema de controles touch em que de um lado da tela você movimenta o personagem e no outro, você controla a câmera.
Isso lá em 2009, quando tudo era mato e nem existia Android Market no Brasil. O nome da Google Play antigamente era esse, fica a curiosidade.
Nessa época, os fãs do Brasil tinham que comprar os jogos direto do site da Gameloft.
Talvez muitos não lembrem da Gangstar hoje em dia, mas antes do GTA San Andreas chegar no celular, a Gameloft nos presenteou com games clássicos como Gangstar Miami Vindication e Ganstar Rio, um verdadeiro GTA no Rio de Janeiro.
A franquia NOVA era o celeiro de ideias de onde a Gameloft testava mecânicas que depois iam ser implementadas em outros jogos.
NOVA 3 , o último jogo da franquia trouxe uma aventura emocionante com um final apoteótico digno um jogo para consoles de mesa.
E o que falar então de Six Guns, uma prova da genialidade e versatilidade da Gameloft.
Um game totalmente despretensioso, com o objetivo de pegar carona no sucesso de Read Dead Redemption, mas que depois a Gameloft adicionou tantas missões que virou um dos maiores sucesso da empresa.
E não podemos esquecer da franquia Asphalt né? O maior hit da Gameloft desde a era Java.
No seu oitavo episódio literalmente dominou o mundo dos games, sendo lançado para TVs em uma época que as TVs nem tinham Android.
1999 até 2014
Pra entender exatamente o que aconteceu com a Gameloft a gente precisa voltar pra 2012.
Muita gente fala que a Gameloft foi gananciosa e mercenária, mas na real, a Gameloft não tava fazendo nada de diferente do que outras empresas estavam fazendo.
Muita gente tem essa impressão porque todos os olhos estavam voltados para a Gameloft. Afinal, era a líder do mercado.
Hoje em dia é comum as pessoas só apontarem o dedo pra outras e caçar culpados ao invés de compreender o cenário tudo.
Acompanhamos jogos mobile desde 2001 e no blog tem a timeline certinha de tudo que aconteceu com a Gameloft.
Talvez a única culpa da Gameloft foi não ter se habituado rapidamente às mudanças do mercado.
A verdade é que o modo como o público consome jogos mudou ao longo dos anos.
Na época dos jogos Java, Symbian e começo do iOS e Android, as pessoas compravam jogos por cerca de 2 a 7 dólares.
Pessoal fala que serviços como Xbox Game Pass são geniais por que entregam muitos jogos de qualidade, mas tinha tudo isso no mobile lá desde 2004.
A questão é que o público dos principais mercados de consumo, entenda bem, Estados Unidos e Europa, mudou a maneira de consumir games de celular.
Assim que surgiu a App Store em 2008, jogos à venda por 0,99 centavos, o mesmo preço de uma música (naquela época, o povo comprava música) ficaram muito comuns.
E tudo começou a mudar por causa de Angry Birds.
Você deve estar pensando… o cara pirou, tem nada a ver!
Calma que tudo vai fazer sentido, prometo….
Sucessos como Angry Birds, que eram vendidos por 0,99 centavos, começaram a ser ofertados de graça pra baixar, primeiro com anúncios e depois com compras embutidas.
Era uma época em que jogos grátis eram novidade.
A parcela que era como a gente, que queria jogos nível console portátil, era muito pequena
A grande maioria do público queria mesmo era um jogo casual pra passar o tempo.
E parando pra pensar, ainda hoje é assim.
A barreira do preço sempre foi um grande empecilho.
A pirataria no mobile
Nessa época a Gameloft tinha dois problemas nas mãos:
O custo de produção dos seus jogos, que estava aumentando a cada lançamento, e a pirataria desenfreada no Android que como sabemos têm até hoje e afasta muitos desenvolvedores.
Jogos incríveis da Gameloft como “O Cavaleiros das Trevas Ressurge”, deram bastante prejuízo e dor de cabeça pra Gameloft. E quem me contou isso foi um ex-funcionário da Gameloft.
A Gameloft, em vez de lucrar, estava perdendo dinheiro no grande palco dos jogos de smartphone.
Por sorte na época, os jogos pagos em java e planos de assinatura ainda rendiam muito dinheiro em países emergentes.
Lembre-se, a Gameloft foi de um modelo onde ela vendia os jogos dela, no site dela, para um modelo onde ela vendia os jogos no Android Market perdendo 30%, que é a taxa de cobrança da loja.
Em uma entrevista ao Pocket Gamer, que teve tradução no nosso blog na época, o diretor da Gameloft comentou como a pirataria estava depredando o negócio deles, e a única alternativa era investir cada vez mais em jogos freemium (o nome era esse na época, free to play veio depois).
Cerca de 80% dos jogadores pirateavam jogos no mobile, isso no geral viu.
No Android, a pirataria era da ordem de RIDÍCULOS 98%!!!
O ano da entrevista era 2012, e deixava claro que a Gameloft planejava virar a chave no futuro. Contudo, a empresa manteve vários lançamentos como jogos pagos (premium) até 2014 quando veio a gota d’água.
E que gota d’água HEIN!!!
Tem jogador de mobile que é muito F*LHA DA P*TA, na moral.
Só pra você ter uma ideia do nível de fela da putice …
A versão de Android de Modern Combat 5 vazou antes do lançamento!
Agora me pergunta como?
O cara que ganhou o jogo no sorteio antes do lançamento vazou Modern Combat 5 pra geral baixar!
A gente ri aqui de nervoso viu? Isso literalmente quebrou o projeto de modern combat 5 e fez a Gameloft tomar uma atitude drástica.
A coisa chegou num ponto que o produtor da Gameloft soltou essa:
Como você pode imaginar, eu estou realmente chateado”. “Para quem tem MC5 já, que vergonha! Estamos fazendo jogos para vocês e tudo que vocês fazem é pirateá-lo?”.
O game era pago, online e já com compras embutidas, mas depois a Gameloft resolveu transformar ele logo em um jogo freemium.
E não foi só ela não? Vários desenvolvedoras como Madfinger e outras mudaram de jogos pagos para free to paly por causa da pirataria gigantesca no Android.
Foi assim rapaziada, na base da pirataria e mudança de mercado que a Gameloft foi para o modelo de negócio free to play.
Muita gente pensa que a empresa agiu de forma gananciosa, mas se a Gameloft se mantivesse fazendo apenas jogos pagos, iria de “arrasta pra cima” muito fácil, iria falir e desaparecer como aconteceu com outras.
É como um título de um tópico que escrevemos no passado: Portfólio extenso traz jogadores, mas não os “pagadores”.
E aqui a gente vai ficar dando lição de moral não tá? Baixa jogo pirata quem quer!
A questão é que a Gameloft viu que grande maioria do seu público não queria jogo pago, queria jogo free to play. Então partiram pra fazer o que o público queria.
Jogos com história e missões offline exigem um grande investimento inicial
E a Gameloft, lá pelos anos de 2014, já estava sem capital para investimentos pesados em projetos.
E como já dizia o ditado: “nada é tão ruim que não possa piorar”
Por volta de 2015, a Gameloft já começava a cortar empregos.
Ela fechou sete estúdios em 2015.
A Vivendi, um conglomerado de mídia presente na França, estava de olho na queda da Gameloft, já na esperança de comprar ela e a Ubisoft.
2015 a 2016: aquisição de Vivendi
Na real, o grande alvo da Vivendi sempre foi a Ubisoft.
após se desfazer de ações de Activision Blizzard que estava mal das pernas por volta de 2015
Vejam só como o mundo dá volta, hoje em dia aposto como a Vivendi tá arrependida de ter vendido a Activision
A Vivendi vendeu a parte dela da empresa de COD e partiu para adquirir a força as duas Soft.
Má pera aí?
E pode uma empresa comprar outra a força assim?
Sim, quando a empresa é de capital aberto, se um único acionista comprar mais de 51% de ações, ele pode fazer mudanças na mesa diretora e pode mandar na empresa.
Foi exatamente assim que a Vivendi tomou conta da Gameloft em junho de 2016.
Prevendo o ataque a Ubisoft, parece que o Michael Guillemot e seu irmão Yves decidiram que era melhor salvar a Ubi, e o Michael pulou fora da diretoria, assinando o documento de venda da companhia.
A partir daí, a Gameloft só perdeu talentos, fechou estúdios e vários projetos desde então tiveram desenvolvimento problemático.
Isso porque a Vivendi passou a cortar empregos e focar ao máximo nos lucros.
2017 a 2018: Gigantes do mercado alcançaram a Gameloft
Mas calma que fica pior ainda pra Gameloft….
Além de fatores de grana, mudanças de mercado e conglomerados gigantes querendo te engolir, a coitada ainda tinha que lidar com 99% das produtoras de PC e console olhando pra a mina de ouro na qual você estava sentado.
Só pra você ter uma ideia, a Apple sozinha lucra mais que Nintendo, Sony, Microsoft e Activision Blizzard juntas no quesito jogos.
O mercado mobile que sempre foi visto como piada, passou a chamar atenção de muitas produtoras de jogos de PC e Consoles.
A partir de 2017, o resto você já sabe né? Tencent, NetEase e outros grandes nomes caíram matando nos jogos mobile também no ocidente.
Foi bom pra gente? Sim foi, mas pra Gameloft foi muito ruim.
Isso por que ela já não era a mesma empresa desde 2014.
A GL já vinha cortando custos e ser comprada pela Vivendi em 2016 só piorou tudo.
A partir 2017, ela passou a enfrentar uma concorrência fortíssima nos ditos “jogos mobile com experiência de console”
Várias empresas com rios de dinheiro pra investir, estavam se espelhando no modelo da Gameloft .
Mas ao mesmo tempo, elas aprenderam com os erros da GL e nem em sonho arriscaram fazer um projetinho de jogo pago.
Os jogos pagos da NetEase nem são dela, são de empresas que ela comprou.
É aquele ditado: “pra que aprender com meus erros, se eu posso aprender com os erros dos outros”.
Tencent, NetEase e outras empresas tinham o que a Gameloft não tinha em 2017 em diante, dinheiro infinito, estúdios e mão de obra barata. Os caras colocaram a mão na massa e a partir daí saiu um clone Battle Royale, MMO ou Moba a cada 5 dias.
Basta ver esse gráfico de interesse do público para ver como a grande maioria estava mais interessada em jogos da Tencent do que da Gameloft.
A nossa querida GL só foi perdendo relevância e pra não ficar no vermelho foi fechando estúdio ao longo dos anos.
Dá até pena olhar o Modern Combat 5 em 2018, A Gameloft tentou criar um Battle Royale com a Engine dele e o resultado foi pavoroso.
2019 até hoje: A Gameloft hoje
Hoje em dia a Gameloft faliu né?
Quer saber o mais engraçado da história… Faliu Não.
E não só não faliu, como aumentou a receita a partir de 2022 segundo o site Statista.
O que? Como?
A Gameloft deu uma de Nintendo e ao invés ficar em um mercado altamente competitivo e predatório como o Mobile, ela resolveu partir para os jogos infantis nos consoles e PC.
Um nicho bem específico e que é deixado de lado por muitas gigantes do mercado.
O carro chefe da Gameloft nessa iniciativa é Disney Dreamlight Valley, que só no acesso antecipado em 2022 foi responsável pelo lucro de 98 milhões de dólares em apenas um trimestre.
Então o resumo da ópera é esse:
A Gameloft se mantém viva, apesar de não ser mais a Gameloft de antigamente, afinal, ela foi comprada pela Vivendi que mudou toda a mesa diretora, fechou vários estúdios.
A Vivendi também fechou o escritório da Gameloft por aqui, e as redes sociais no Brasil estão paradas desde 2019.
Não há nenhuma previsão de que a Gameloft seja vendida pra outra empresa e nem de que vá apostar em jogos nível console no mobile tão cedo.
Atualmente, ela está desenvolvendo Gangstar New York como um game multiplayer de ação, mas por enquanto todas as informações indicam que o see jogo será mesmo para PC.
Conclusão
E Se a Vivendi não tivesse comprado a Gameloft?
Na real, pouca coisa teria mudado, talvez tivéssemos um Modern Combat BR melhor ou um Versus mais competitivo.
Mas tudo isso é pura especulação. Hoje em dia pra se firmar no terreno de jogos mais elaborados no mobile precisa de muito investimento.
Veja o caso da EA que encerrou Apex Legends Mobile.
Ou da Activision, que vem enfrentando diversos problemas no desenvolvimento e teste beta de Warzone Mobile.
É realmente uma pena o que aconteceu com a Gameloft, uma desenvolvedora visionária que enxergou o mobile muito antes dele ser o que é hoje.
Temos várias memórias inesquecíveis sobre a Gameloft que vamos compartilhar com vocês em breve.
A visão que os irmãos Guillemot tiveram lá por volta de 2000, de pensar no mobile como uma plataforma com jogos nível console se concretizou, mas não da forma como imaginamos.
Hoje em dia, é possível jogar vários games de console no celular via Cloud Gaming ou via emuladores. Contudo, a pirataria desenfreada ainda é um dos principais obstáculos na plataforma.
E ela não é exclusiva do Brasil não viu gente. É apenas questão de mercado mesmo.
As empresas de mobile se ligaram que quem gosta de pagar por jogo offline é jovem adulto e adulto, ou seja, quem já trabalha. E geralmente quem tá assim, já pensa começa a pegar outra plataforma pra jogos mais elaborados.
Criança nem tem como pagar, nem comprar console caro. E até leva cascudo dos pais se falar que vai gastar dinheiro em jogo de celular. kkk
As produtoras já perceberam que a maior parte do público mobile: ou é criança (que serve pra fazer número) ou é gente mais velha (os pagantes)
e é por isso que eles investem nos nichos de jogos infantis ou casuais.
Eles já sabem que experiências online, sociais com resposta rápida do fator diversão, tendem a estimular o jogador a abrir mais a carteira.
Eles já sabem de tudo isso.
Nós aqui, eu e você, que queremos jogos offline e pagamos por isso, somos o famoso 1% do 1%.
E aqui encerra o nosso artigo sobre o que aconteceu com a Gameloft
O que você achou do destino da Gameloft? Comenta aqui embaixo
Um muito obrigado para quem leu até o final.
Caso tenha mais interesse sobre a história dos jogos mobile, veja esse vídeo aqui com uma timeline ano a ano da evolução dos jogos de celular.