Os jogos mobile, por muitos anos, foram sinônimo de lucro fácil, não apenas para os desenvolvedores de games, como também para produtores de conteúdo. Virais por conta de histórias de sucesso, como a dos jogadores de Free Fire, o sonho de “viver de mobile” virou um pesadelo para muitos.
O recente “flop” de Farlight 84 e Blood Strike reacende a discussão: “cadê o hype dos jogos mobile?” Uma pergunta inusitada que está bastante ligada aos produtores de conteúdo.
Aviso:
JOGOS MOBILE ≠ Emuladores e jogos na nuvem.
O tema aqui é se vale a pena gastar para jogar jogos mobile nativos.
O que você verá nessa matéria:
- Vários motivos indicam que o não dá mais para ter hype nos próximos jogos mobile gratuitos.
- Muitos projetos como Apex, Farlight 84, Blood Strike, Devil May Cry e etc falharam em captar a atenção do público brasileiro.
- Houve queda no indicativo do público que joga no celular.
- Aumentou a quantidade de pessoas que jogam em emuladores e não jogos mobile nativos.
- O encarecimento dos celulares tornou impossível acompanhar jogos lançamentos “pesados”.
O Celular é a Plataforma preferida dos brasileiros… Porém…
Antes de entrar de verdade no assunto de que o hype por jogos mobile está morrendo em nosso país, é preciso deixar bem claro uma coisa: os brasileiros ainda amam jogar no mobile.
Segundo dados da “Pesquisa Brasil”, o mobile ainda é a principal plataforma de games do Brasil, com 51% de preferência do público.
Parece muito, mas em 2020, o número era muito maior, com 86,7% das pessoas afirmando que jogavam no celular. No comparativo, temos uma queda de 35%. Calma que piora, jogar no celular não quer dizer exatamente que a pessoa está jogando games mobile.
Aviso aos BURROS DE PLANTÃO: Pesquisas assim são de múltipla escolha, a pessoa pode escolher duas ou mais plataforma, não é de escolha única.
Ué, Como Assim?
Jogos emulados e nuvem não são mobile, são de outras plataformas
Com a ascensão de serviços de cloud gaming como o XCloud e emuladores, muitas pessoas jogam games no celular que não são exatamente jogos mobile.
A quantidade de gamers de celular ainda é grande, mas uma boa quantidade não joga games mobile, mas sim games de console como PlayStation 2 e Super Nintendo. Além é claro da quantidade de usuários de Cloud gaming que surpreendeu até mesmo a Microsoft.
Mas enfim, precisa investir pesado para ter um celular bom pra jogos na nuvem? obviamente não. Basta um bom controle, que até um J5 resolve.
A questão que é preciso separar aqui, e que estamos discutindo aqui, é que “jogos mobile” são “jogos feito para celular”. Não estamos falando de jogos port ou games na nuvem ou muito menos emulados no celular.
Desinteresse por novos jogos mobile afeta produtores de conteúdo
Segundo dados do ZDnet, cerca de 75% dos produtores de conteúdo vivem estressados e 69% já tiveram Burnout. Não há dados sobre criadores de conteúdo de jogos mobile, mas basta conversar com qualquer um para ouvir reclamações sobre queda de views e expressões como “morte do canal”.
Existem dezenas de canais de Free Fire falidos. Canais com milhões de inscritos e visualizações iguais as de canais com 10 mil inscritos ou menos.
Vídeos de novos jogos não fazem sucesso como antes e sobram reclamações sobre a qualidade dos novos games de celular.
O motivo é simples, o público está cansado de jogos mobile, mais especialmente de jogos gratuitos que são online e envolvem compras embutidas.
Após anos de hype exagerado e click baits, o público, até mesmo os mais ingênuos, já perceberam que novos jogos grátis serão focados no grinding (tarefas repetitivas) e monetização agressiva.
Então, tornou-se muito comum o público experimentar um game novo por uma semana, ou até menos que isso, e largá-lo sem o menor remorso.
Surpreendentemente, Farlight 84 foi um jogo que teve um “buzz” grande no Brasil, por conta dos campeonatos com premiação e focados em jogadores amadores. Contudo, bastou os “pro-players” entrarem nos campeonatos que os jogadores desistiram do jogo.
Farlight 84 fez sucesso apenas enquanto a “esperança de virar emprego” existia. Bastou isso desaparecer que o público largou do game.
Farlight 84 ainda é um grande sucesso para o estúdio que o produziu, porém, com números de downloads e jogadores estão bem distantes de repetir o sucesso de Free Fire.
O que Faltou Então?
Faltou nada! Simplesmente o público abandonou o game depois após ver que não iria realizar o sonho de virar streamer ou ganhar dinheiro jogando.
Farlight 84 tem atualizações constantes, muito conteúdo e não está lotado de hackers. São bots colocados, pois o público simplesmente “foi embora”.
Além do exemplo de Farlight 84, são vários os exemplos de jogos com alto investimento que “floparam” como: Apex Legends, Devil May Cry Peak of Combat, League of Legends, Honor of Kings, Undawn, Arena of Valor, Arena Breakout… a lista é imensa!
Algo interessante, e triste, a se analisar nesses “flops” e que ainda vou por os dados em um artigo futuro, é que todos os jogos que foram “hypados” no Brasil, “floparam”.
A Expectativa de Lucro e o Declínio das Livestreams
O advento das plataformas de livestreaming como o Twitch trouxe consigo a esperança dos criadores de conteúdo de viverem “o sonho” de viver de jogos mobile. A esperança era construir uma audiência fiel e gerar receita através de doações e anúncios.
Entretanto, a realidade se mostrou mais desafiadora do que o esperado. Lives de jogos mobile não fazem mais sucesso como antigamente e a produção de conteúdo como vídeos com partidas tem fracassado em cativar o público.
Além disso, a monetização em torno de lives de jogos mobile é menos desenvolvida em comparação com jogos de console e PC. O público de jogos mobile geralmente é menos propenso a gastar dinheiro em doações.
Até mesmo os conteúdos mais divertidos como campeonatos já não chamam mais atenção como antigamente, e o público tem preferido assistir produtores de conteúdo antigos, mas que jogam games de PC e consoles.
Veja um comparativo de interesse de alguns jogos Mobile sem e com Free Fire, utilizando o site Google Trends. Note a diferença da escala.
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Os Desafios da Indústria de Jogos Mobile em um Cenário como o Brasil
“O jogo tá otimizado?”
Essa é outra expressão que é estranha em outros países e tem se tornado comum no Brasil.
O Brasil é um país com graves desigualdades sociais, que se refletem não apenas no modo como as pessoas consomem jogos mobile, mas como consomem games como um todo.
Quando Free Fire foi lançado em 2017, e estourou em 2018, o game era compatível com praticamente qualquer smartphone de entrada lançado em nosso país.
Crianças e jovens, que geralmente herdam os smartphones antigos dos pais ou que recebem celulares de entrada como presente, viram que era possível jogar e fazer lives direto do smartphone, sem muita dificuldade.
As coisas não são mais assim.
No Brasil, graças a desigualdade social, se tornou comum revender o smartphone ao invés de doá-lo para os filhos, e os pequenos geralmente ficam com os piores celulares para jogos.
A coisa é tão ruim que em pleno 2023, ainda há pessoas com smartphones com processador de 32 bits, pedindo otimização para os desenvolvedores que fazem jogos, onde o target hoje são dispositivos com Snapdragon 865 ou superiores.
Para se ter uma ideia, o iPhone 11 de 2019, um dispositivo com 4 anos de idade, ainda é considerado “top de linha” por muita gente.
Em um cenário desolador como esse, sobram reclamações sobre otimização.
Vale a pena investir em um celular Gamer no Brasil? Resposta rápida: NÃO.
Correndo o risco de parecer repetitivo, o Brasil é um país com gigantescas desigualdades sociais.
Isso é tão verdade, que quando o iPhone 15 Pro Max foi revelado, muita gente pensou: “com o dinheiro de um iPhone novo eu compro um PS5 e um PC Gamer”.
A pessoa que faz esse tipo de comentário é uma completa anta. Até parece que quem compra um smartphone desse naipe, no lançamento, não tem grana de sobra para já ter um PC Gamer, PS5 e muito mais.
Ainda assim, esse tipo de comentário burro, que faz apenas juízo de preço tem seu valor.
Esse tipo de comentário ajuda a exemplificar a enorme desigualdade social em nosso país.
Mostra que muitos jogadores de mobile, na realidade não queriam jogar no celular, jogam porque não têm dinheiro para comprar outra plataforma.
Muitos não têm sequer um console da geração retrasada para jogar, como eles podem querer um smartphone caro para jogar?
O tilt é esse!
A pessoa nunca teve uma plataforma dedicada para jogar e vai investir 2 mil, 4 mil, 10 mil reais em um smartphone para jogos?
Não! Simplesmente NÃO!
Nem mesmo para produtores de conteúdo vale mais a pena adquirir tal coisa. E os que o fazem, com certeza não são produtores focados em jogos mobile.
Se o objetivo é jogar, procure uma plataforma dedicada para jogos. Invista em um smartphone apenas se você deseja TER um smartphone melhor, os jogos são consequência, não são a “atividade fim” de um smartphone.
É possível encontrar Switch Lite por cerca de R$ 1300 reais na Amazon. PS4 Usado pelo menos preço e até PS3 por volta de 400 reais.
O “Remessa conforme” vai atrapalhar bastante a vida do “Gamer de celular”
Já vivemos numa realidade de ampla defasagem do que o público espera de um jogo mobile, e do que é possível entregar em intermediários (de verdade).
Smartphones com Snapdragon 855, 865, são “intermediários” em outros países. São celulares baratos que pessoas pobres compram.
No Brasil, smartphones com processadores como esses acima, ainda são vistos como “topos de linha”.
E a coisa promete piorar.
Se antes, era possível comprar um POCO F4 por R$ 1.380 com no máximo R$ 200 reais de taxa de importação, esse mesmo smartphone pode chegar até R$ 2.500 com impostos aplicados. O que tornaria a compra inviável.
A coisa só piora se você desejar sair dos básicos e comprar um Redmagic 8S Pro. O valor de R$ 3.5 mil pode saltar para R$ 6.500!
Inviável para quem não tem sequer um videogame da geração atual.
A Conclusão Estarrecedora
E chegamos à triste conclusão de que investir em smartphone para jogar, não vale mais a pena para quem quer apenas jogar.
Não faz sentido gastar em um smartphone caro, se você nunca teve sequer um Xbox ou até mesmo um Nintendo Switch.
O Switch Lite pode ser encontrado na Amazon do Brasil por R$ 1.3 mil.
Não caia em propagandas enganosas de empresas que apontam celulares básicos como “celulares gamers”.
Nenhum celular novo de até 1.500 reais, comprado no Brasil, vai conseguir rodar Genshin Impact no máximo ou até mesmo Warzone Mobile em qualquer situação.
Nesse cenário de gastança, até um Steam Deck faz mais sentido do que um ROG Phone, por exemplo.
E atualmente, no Brasil, com o “fim de importação”, nenhum intermediário premium vai valer mais a pena.
Por fim, o desinteresse do público por jogos mobile faz todo sentido do ponto de vista do custo-benefício, pois infelizmente, o grande público só olha para os jogos mobile gratuitos, deixando totalmente de lado jogos pagos ou por assinatura (Netflix Games e Apple Arcade).
Perde-se muito tempo discutindo se jogo “A” ou “B” vale a pena “investir” ou “como está a otimização”. Em outras palavras, em um cenário em que se discute muito o acesso ao jogo, ao invés de discutir sobre o game em si.
Para mim, nesse cenário de dificuldade de “ter um jogo rodando bem no celular”, minha sincera opinião é, não perca tempo “investindo em um celular caro”.
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