Análise: Dragon Quest I é hardcore até demais

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A Square-Enix está trazendo toda a sua biblioteca de RPGs antigos para os smartphones com Android e iOS. Diversos jogos já pintaram nas plataformas mobile, um bom exemplo são os Final Fantasy’s. Porém, a série Dragon Quest é pouco desconhecida por aqui, e talvez por isso, mereça a nossa atenção especial. Confira a nossa análise do primeiro jogo da franquia de RPG que leva o termo “clássico” a um novo nível.

– Akira Toriyama e grande elenco

A série Dragon Quest pode ser pouco conhecida no Brasil, mas no Japão, ela é cultuada de uma maneira que você chega a pensar que os japoneses gostam mais dela do que de Final Fantasy. Os motivos para isso são bastante intrínseca, o que talvez leva o jogador ocidental a não entender o porquê disso acontecer.

Dentre uns desses motivos está a participação de artistas conhecidos do público japonês. Um deles é o criador da série Dragon Ball, Akira Toriyama. Ele atua como Character Design desde o primeiro jogo da série, lançado originalmente em 1986 (um ano antes do primeiro Final Fantasy). Outro nome  de grande repercussão é o do compositor Koichi Sugiyama, renomado compositor japonês e conhecido naquele país, por composições de temas para animes, tokusatsus e comerciais. Hoje, obviamente, ele é mais conhecido pelas composições dos jogos de Dragon Quest.

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Desenvolvedores da Enix. No canto direito estão Koichi Nakamura e Yuji Horii.

Mas o time que realmente desenvolveu e programou o primeiro Dragon Quest merece até um capítulo à parte. Vencedores de um concurso realizado pela Enix em 1982, até então uma fracassada empresa de classificados de imóveis. A Enix promoveu o concurso visando desenvolver jogos para computadores. Koichi Nakamura e Yuji Horii mal podiam imaginar que iriam embarcar na maior história de suas vidas.

Ambos venceram o concurso de jogos,  com seus games “Door Door” e “Love Match Tennis“. O prêmio do concurso não era em dinheiro, mas sim uma viagem para a AppleFest 83, nos Estados Unidos. Chegando lá, conheceram dois jogos que foram a inspiração para a criação de Dragon Quest, os ainda mais lendários, Wizardry e Ultima. Esses dois games são os “tataravôs” de qualquer jogo de RPG que você tenha jogado recentemente.

Dragon Quest também sofreu forte influência de RPGs de mesa como Dungeon & Dragons. Mas a ideia de Koichi Nakamura e Yuji Horii era desenvolver um jogo sem tantas regras e com um sistema de combate simplificado, com o objetivo de ser acessível ao público-alvo do recém-lançado (em 1983) Famicom, o Nintendinho japonês. Dragon Quest não foi o primeiro jogo de RPG eletrônico, mas foi o primeiro game do estilo para consoles de videogame.

– Sucesso no oriente, no ocidente, nem tanto

Dragon Quest nunca fez um enorme sucesso no Brasil, e muito menos nos Estados Unidos. Nas Américas, a série iria chegar por aqui com o nome de Dragon Warrior. Isso aconteceu por que a empresa dona de Dungeon & Dragons já havia registrado o nome DragonQuest como marca registrada.

Esse foi também um dos motivos pelos quais o anime exibido no Brasil fosse rebatizado como “Fly – o pequeno guerreiro“. Dragon Quest Dai no Daiboken (nome original) que contou com 46 episódios e 3 OVAs. Fly foi exibido no SBT durante os anos 90, nos saudosos “Sábados Animados”.

Mesmo assim, a série de jogos de Dragon Quest nunca decolou por aqui. Outro motivo que pode ser apontado é a dificuldade elevada. Dragon Quest, desde o primeiro jogo, não é o tipo de jogo onde você “farma XP”. Os combates, logo no princípio, são muito difíceis, exigindo repetição e estratégia. A quantidade de combates aleatórios também pode ser tida como outro motivo que afastou os jogadores. Mas acredite, no Japão, eles adoram jogos assim. Felizmente a versão mobile conta com uma quantidade relativamente menor destes combates.

– História clichê

Reza a lenda que o lendário guerreiro Erdrick lutou bravamente para tirar o mundo da escuridão. Nesta incrível aventura, o herói de Alefgard usou a Esfera da Luz, único artefato capaz de derrotar uma figura draconiana que trouxe caos e destruição.

dragon-quest-um-androidMuitas gerações puderam viver em Paz, até que o mal de outrora começou a ressurgir para além do mar e das montanhas ocidentais. Uma figura tenebrosa conhecida apenas como Dragonlord, surgiu e raptou a princesa Gwaelin e a Espera da Luz. Como descendente de Erdrick, cabe ao personagem controlado pelo jogador, a tarefa sagrada de trazer a luz da esperança de volta ao coração das pessoas.

A primeira aventura de Dragon Quest começa no castelo de Tantegel com o Rei Lorik XVI lhe passando essa tarefa hercúlea. Depois de conseguir alguns itens que estão em baús no castelo, o jogo simplesmente “solta” o jogador para explorar o mundo de Alefgard.

– Jogabilidade que não vai agradar a nova geração

Dragon Quest para Android e iOS mantém o mesmo tipo de jogabilidade do game original. O visual melhorou bastante, e o jogo está parecido com o port para SNES de 1993.

Voltando à jogabilidade, os combates em Dragon Quest podem não agradar quem espera batalhas com muita ação. Para começar, você nunca vê o seu herói em combate, apenas os inimigos com aquele traço icônico do mangaká Akira Toriyama.

O painel de comandos durante as batalhas é muito simples. Há opções para usar itens, atacar, usar magias e por aí vai. Mas o que vai realmente ferver o seu sangue e a quantidade de combates. Dragon Quest é literalmente um exercício de paciência. A evolução do jogo é muito demorada e as recompensas “visuais”, no upgrade do herói, não podem ser vistas e são pouco sentidas durante os combates.

Ainda assim, Dragon Quest é curto se comparado a outros jogos de RPG do mesmo período. Em pouco mais de 10 horas é possível terminar todas as dungeons e derrotar o Dragonlord. Um dos motivos que deixam a versão mobile mais fácil, de ser digerida, são os modos com autosave e quicksave. É possível salvar o jogo em qualquer lugar e a qualquer momento, ao contrário do jogo original, onde o único local para salvar era no castelo de Tantegel.

– Comandos que poderiam ser melhores

Um dos principais problemas dessa conversão para Android e iOS é a interface. Incrivelmente feia de desengonçada, a única maneira do jogador ser feliz com ela é aceitando-a. Ao invés de incorporar botões virtuais, tentaram transformar alguns comandos em toques na tela, o que resulta em ações errados e desistência depois de alguns minutos jogando.

O analógico não é dos melhores, ele não responde direito aos comandos de deslizar, apenas ao toque direto. Do contrário, ele poderia ficar até mesmo oculto, pois como se trata de um jogo com comandos limitados (o personagem se move apenas em quatro direções), a interface ficaria mais limpa.

Há apenas um modo de visualização, no formato “Retrato”, ou em linguagem leiga, “com o celular em pé”. O único jeito de ser feliz como Dragon Quest para celular é se acostumar com a interface e comandos, pois eles estão presentes em todos os jogos da série e até alguns games de Final Fantasy.

– Feito para os amantes de JRPG

Ao menos que você seja fã do gênero, Dragon Guest não irá significar muito para você. O game não possui ação, tem combates repetitivos, difíceis e você se perderá facilmente nesta aventura.

Dragon Quest é um jogo que exige uma resiliência tipicamente japonesa, de superar desafios aparentemente chatos de maneira resoluta e sem qualquer tipo de recompensa, já que o jogo não tem sequer suporte a Google Play Games. Mas para os amantes de JRPGs, pouco importa, pois este é um jogo quase obrigatório, o lugar onde muitos começaram suas aventuras épicas por campos verdejantes.

– Conclusão

Com uma jogabilidade quase arcaica, dificuldade acima da média e pouco receptivo aos novatos, Dragon Guest é recomendado apenas para quem é realmente fascinado por aventuras nesse estilo. Quem procura muita ação ou combates em tempo real, vai se decepcionar. Graças a interface problemática, o jogo pode afastar até mesmo os fãs do gênero.

 

Prós

  • Nostalgia para os amantes do gênero
  • Quicksave e autosave

Contras

  • Interface confusa
  • Comandos problemáticos
  • Sem conquistas da Google Play Games

Nota 6/10

 

Ficha Técnica

Plafaformas: Android 2.3 ou superior e iOS 4.3 ou superior

Tamanho: 29MB

Idioma: Inglês

Versão avaliada: Android, comprada na Google Play.

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