Os desenvolvedores de jogos mobile deveriam se preocupar em fazer JOGOS MELHORES, ao invés de esconder “os problemas” com inúmeros teste beta fechados
Nos últimos anos, os games mobile tem enfrentado uma verdadeira inundação de jogos em teste beta. Essa estratégia, que parece acertada à primeira vista, se revela um desastre no longo prazo e os jogadores já estão se cansando dela.
A superexposição a jogos inacabados que nunca são lançados está desgastando o entusiasmo dos jogadores. Neste artigo, vamos abordar os motivos desse “cansaço”.
Resumo para os apressadinhos:
- Os estúdios estão usando teste beta mais para marketing do que para desenvolvimento do game
- Geralmente o jogo já está pronto há anos, e estão apenas testando servidores ao invés de criar algo novo para o game
- Há jogos demais e com jogabilidade rasa em teste beta
- A possibilidade de testar um game anos antes do seu lançamento está estragando a antecipação pelo game.
Jogos demais (e ruins demais)
A constante exposição a jogos em estágios de desenvolvimento beta tem irritado muitos jogadores mobile.
O problema é justamente a quantidade de jogos. São tantos que já existe disputa não por uma “janela de lançamento” do jogo, mas sim pela “janela do beta”, tentar convencer o jogador a jogar o beta de um jogo, antes do seu concorrente.
O resultado pode ser visto em números.
Um belo exemplo é MHA: The Strongest Hero, jogo do anime My Hero Academia. O game teve um teste beta extenso na Ásia e os vídeos sobre ele bateram até 4 milhões de visualizações. Todo vídeo sobre o game de My Hero Academia “bombava”.
Sucesso na certa né? Errado! O game foi um desastre no seu lançamento, demonstrando uma jogabilidade rasa e sem vida.
Não demorou para os jogadores perceberem que o game “só tem gráfico” e a maioria que testou abandonou.
Hoje em dia MHA: The Strongest Hero tem números muito aquém do esperado para um jogo desse porte, não conseguindo fazer nem menos mais de 110 mil dólares mensais no somatório de suas versões.
Testamos os jogos por anos antes do lançamento “final”
A frustração pela quantidade de teste beta, não se deve pela impossibilidade de testar o game, mas justamente pelo contrário.
O jogador mais entusiasta do mobile, consegue, com pouca ou nenhuma dificuldade, testar um jogo que está a um ano ou até dois anos do seu lançamento no ocidente.
Assim, quando o jogo finalmente chega por aqui, ele ainda sofrerá mais uma rodada de teste beta para testar servidores, e os potenciais jogadores já testaram o jogo há pelo menos um ano.
Um bom exemplo de um desastre foi o que aconteceu com Devil May Cry: Peak of Combat. O game apresentado no lançamento do Novo iPad Pro em 2021 ainda hoje não foi lançado. Sim, DOIS ANOS depois, o game continua em teste beta. INACREDITÁVEL.
O game inclusive “perdeu protagonismo” de ter um grande lançamento no iPhone e iPad, pois a Capcom já vai trazer Resident Evil Village e Resident Evil 4 Remake para o iOS. Uma grande oportunidade perdida pelo pessoal da Nebula Joy.
O feedback que se perde
O que é Feedback: informação que o estúdio obtém da reação do jogador ao seu game. Ele Feedback pode ser por meio de comentários e pesquisa ao final de cada teste beta.
É bastante comum a empresa ouvir a comunidade e não fazer nada a respeito para melhorar a jogabilidade do seu jogo.
Ciclos longos de teste beta, tendem a ser exaustivos até mesmo para os jogadores que testam o game. Um bom exemplo e Call of Duty Warzone Mobile, no qual o jogo está demorando tanto que pode acontecer da comunidade se cansar do game antes dele ser lançado.
Contudo, a parte mais ruim é não ouvir a comunidade e o feedback ser perdido. Isso pode criar um ambiente de desconfiança e desinteresse entre os jogadores.
Jogos sem profundidade
Muitos dos jogos mobile que estão em teste beta neste momento, tem gráficos incríveis, mas uma jogabilidade enganosa, que aparenta apenas ter profundidade.
É justamente na jogabilidade que mora a decepção dos jogadores. Basta alguns minutos, ou horas, jogando para encarar alguns limitadores de energia ou que “freiam” o avanço.
Diablo Immortal, por exemplo, foi mestre em contornar isso. O jogo ofereceu muito conteúdo inicial, e mesmo irritando a comunidade cativou milhões de jogadores novos ao oferecer quase “uma semana” de conteúdo free inicial.
Outros jogos pecam nesse aspecto. Mesmo ao tentar apenas dar um “gostinho” de como será a aventura, muitos jogos tem apenas alguns minutos de jogabilidade empolgante e logo logo te entregam o tédio da “jogabilidade automática”.
A obsessão em “lucrar logo” impede até do estúdio de entregar uma experiência melhor.
A grande maioria dos jogos free to play de RPG e ação entrega uma experiência fragmentada e muitas vezes frustrante, onde os jogadores raramente encontram conteúdo polido e finalizado.
Jogos são frequentemente apresentados com bugs significativos, problemas de balanceamento (que exigem pagar ter alguma chance) e, às vezes, mecânicas de jogo mal implementadas, fatigando os jogadores e diminuindo a antecipação positiva.
Impacto na percepção de marca e antecipação de jogos
O mundo dos jogos mobile está repleto de testes beta mal sucedidos: Devil May Cry, Apex Legends, MHA, Mortal Kombat: Onslaught, One Punch Man e muitos outros.
Ao contrário da sabedoria do grande Shigeru Miyamoto – “Um jogo atrasado tem chances de ser avaliado como bom, mas um jogo feito com pressa é eternamente ruim” – o que costuma acontecer com jogos mobile free to play é que o teste beta revela que apenas os servidores são testados e o jogo em si, muda pouca coisa.
As produtoras de games mobile mentem na “cara dura”, dizendo que estão melhorando o game, e quando inicia mais um teste beta, pouca coisa muda e é só mais um teste para “criar hype”.
As produtoras de games mobile estão usando Teste Beta como desculpa para criar “hype” e criar o “gatilho da escassez”, uma estratégia de marketing que não está dando certo.
Games como Apex Legends Mobile, que inclusive venceram prêmios de melhor jogo tanto na Google Play como App Store, e mesmo assim fracassaram em se tornar um sucesso.
Os teste beta, feitos de forma indiscriminada e apenas para “causar hype” já estão saturando os jogadores, ao invés de deixar ele animados.
Para tornar o mercado mais revitalizado e animador, as produtoras precisam focar em FAZER JOGOS MELHORES. Deveriam tornar o teste beta em uma ferramenta para colher feedback, e não um truque de marketing.