O mercado brasileiro de criptomoedas mantém seus números em alta. Principalmente se comparado a outros países da América Latina, o Brasil está nas primeiras posições dos ranking. E de acordo com o presidente do Banco Central do Brasil, Gabriel Galipolo, cerca de 90% do uso de criptoativos no país está relacionado a stablecoins.
Isso reforça a importância dessas moedas digitais no mercado nacional. Esse índice está diretamente ligado à preferência dos brasileiros por ativos que mantenham maior estabilidade de valor, seja para fins de negociação, reserva de valor ou uso em pagamentos.
Por que as stablecoins são tão relevantes?
As stablecoins no Brasil não são uma novidade para quem acompanha as mudanças nos métodos de pagamento e as demandas do mercado nacional. O próprio Galipolo enfatizou, em um evento do Banco de Pagamentos Internacionais, que a adoção em grande escala desses ativos digitais levanta questões acerca de supervisão, tributação e combate a ilícitos financeiros.
Por serem vinculadas ao valor de moedas fiduciárias, como o dólar norte-americano, ou a outros ativos de reserva, as stablecoins apresentam menor volatilidade, tornando-se mais atrativas, principalmente para quem deseja negociar ou enviar remessas internacionais de forma ágil.
Além disso, o volume cada vez maior de operações com stablecoins se reflete em números divulgados pela Chainalysis. Entre julho de 2022 e junho de 2023, os usuários de criptomoedas no Brasil movimentaram aproximadamente 90 bilhões de dólares em criptoativos, ocupando a segunda posição em toda a América Latina.
Desse montante, mais de 59% corresponde a transações em stablecoins, enquanto o restante está dividido entre Bitcoin, Ethereum e demais altcoins. Isso indica a grande afinidade do investidor brasileiro com tokens mais estáveis, sobretudo em períodos de incerteza econômica.
Outro fator relevante é a adoção dessas moedas por empresas que buscam soluções de pagamento menos onerosas e mais eficientes. Em 2024, por exemplo, a gigante de e-commerce Mercado Livre anunciou o lançamento de sua própria stablecoin, a Meli Dollar, reforçando a ideia de que grandes companhias enxergam valor em oferecer esse tipo de ferramenta para ampliar a inclusão financeira e facilitar transações.
Muitos projetos já chegam ao mercado com a proposta de oferecer versões mais estáveis de tokens, atrelados a moedas fiduciárias ou até mesmo a commodities. Essa estratégia em um pré-lançamento de criptomoedas costuma atrair quem deseja explorar oportunidades, mas busca reduzir a volatilidade típica de ativos como Bitcoin e Ethereum.
A popularidade das stablecoins também gerou questionamentos sobre regulação. Embora o Banco Central já tenha estabelecido diretrizes para o funcionamento e a fiscalização de fintechs e outras instituições de pagamento, o ritmo acelerado do setor cripto, aliado à falta de uma regulação específica, exige que autoridades atualizem suas normativas continuamente.
Os debates em torno de tributação e prevenção à lavagem de dinheiro são recorrentes, pois as transações de stablecoins, apesar de rastreáveis em blockchain, ainda podem ser alvo de esquemas ilícitos. Por fim, a rápida adoção desses tokens desperta atenção não só no governo, mas também em toda a indústria financeira.
É esperado que novas parcerias, projetos e soluções de pagamento em stablecoins surjam nos próximos meses, fomentando ainda mais o uso desses ativos no dia a dia do consumidor. A iniciativa batizada de “Drex”, por exemplo, vem ganhando relevância, embora o próprio Banco Central aponte que não se trata de uma CBDC tradicional, mas sim de um projeto de infraestrutura capaz de melhorar o acesso a serviços de crédito.
A proposta, segundo Galipolo, é usar tecnologia de registro distribuído para efetuar liquidações interbancárias de forma mais eficaz e segura, o que pode, em última instância, facilitar transações comerciais, incentivar a digitalização de pagamentos e reduzir custos operacionais do sistema financeiro.
Em 14 de outubro de 2024, o Banco Central anunciou que estava testando o Drex em integrações com tokenização e DeFi (finanças descentralizadas). Com isso, a meta é aprimorar as funções de liquidação e permitir que uma parte maior da população tenha acesso às mesmas garantias e aos mesmos processos de segurança oferecidos hoje em operações interbancárias.
O Drex substituirá o Sistema de Transferência de Reservas no que vem sendo chamado de “STR 2.0”, porém ainda existem detalhes técnicos a serem desenvolvidos antes de o sistema entrar em pleno funcionamento. Enquanto as stablecoins são iniciativas privadas, o Drex permanece sob o escopo de uma solução gerida pelo Banco Central, algo que pode trazer mais segurança para instituições financeiras que buscam um ambiente regulado.
Por outro lado, também levanta questões sobre interoperabilidade com outras redes, já que parte do problema é permitir que o Drex dialogue com sistemas e carteiras digitais mais amplos, sem perder a segurança e a eficiência propostas. De acordo com dados oficiais do Banco Central do Brasil, já circulam no país milhares de empresas com registro para operar no segmento de pagamentos digitais, e muitas delas flertam com soluções blockchain.